domingo, 29 de abril de 2012

Ho sceso milioni di scale

(Eugenio Montale)



Ho sceso, dandoti il braccio, almeno un milione di scale
e ora che non ci sei è il vuoto ad ogni gradino.
Anche così è stato breve il nostro lungo viaggio.
Il mio dura tuttora, né più mi occorrono
le coincidenze, le prenotazioni,
le trappole, gli scorni di chi crede
che la realtà sia quella che si vede.

Ho sceso milioni di scale dandoti il braccio
non già perché con quattr'occhi forse si vede di più.
Con te le ho scese perché sapevo che di noi due
le sole vere pupille, sebbene tanto offuscate,
erano le tue.

Verdade

Imagem de Think Different

Sei que tudo o que invento de ti é verdade: sinto.

Quando o belo amadurece


Foto de Erwin Olaf
Ver beleza somente na juventude, no vigor, no viço...  ou na "perfeição" de traços, na harmonia de  proporções esteticamente convencionadas a cada época, é uma crueldade ingênua que o ser humano faz consigo. A beleza está nos olhos de quem vê? O belo se mostra a quem sabe vê-lo. Não se trata de beleza "interior" tampouco. Feia talvez seja a decrepitude que não está necessariamente relacionada à elasticidade da pele. O corpo é a expressão; a decrepitude é um de seus "estados" de prostração em qualquer idade. Considerar belo, portanto, somente o estereótipo corporal vigente ou o auge da juventude é como considerar belo somente o sol ao meio-dia, quando ele exibe a sua plenitude de energia. Muito mais belo tende a ser, porém, o sol poente...

sábado, 28 de abril de 2012

Silêncio

Obra de Monet

É uma tristeza tão linda
a lágrima escorre o vazio
pra dentro do peito sem fundo
e leva o sonho perdido
por uma ciranda serena
qual pintura de Monet

Os olhos fechados mergulham
em névoas de uma sinfonia
embriagando a alma na brisa
do tempo em que o mundo vadio
não passava de um quintal sem dono
onde a gente brincava feliz

As janelas do pensamento
abriam-se efusivamente
pra varandas estendidas ao mar
O cheiro da maresia
com suas ondas repletas de histórias
inundava os espaços sem mais

Não volto pro mundo sem antes
beber desse breve momento
de gozo, de choro e de paz
No gesto que rompe o segundo
guardo a custo a miragem
do silêncio em suspenso no ar

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Abismo



Se você pensar em mim, eu sobrevivo
não é uma questão de fogo, mas de fôlego
Basta que se lembre de mim e eu aguento
não pela força, mas pelo estímulo

Se você lutar por mim, eu me entrego
não por me deixar levar, mas por fé no dorso
Basta que olhe para mim e eu flutuo
não pra ficar à toa, mas pra saltar no abismo

Um sussurro, um bilhete insosso,
qualquer gesto teu me salva
por um dia, por um segundo?

Em cada tempo que ressuscito,
basta um vestígio da tua existência 

pra minha escolha ter sentido

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Desabafo

Um dos ápices (sim, porque existem vários) da desgraça humana é o entrelaçamento da ignorância com a falta de consciência, o que equivale a dizer que o "ser" não tem consciência da própria ignorância. Aí, o(a) néscio(a) lê uma frase de um filósofo, um intelectual, um pensador qualquer e não só crê que a entendeu, como dela conclui que conhece todo o pensamento do autor. Com "absoluta propriedade", passa então a citar o gênio no meio das suas imbecilidades, como se realmente soubesse do que está falando.
E o pior: leva consigo a sua escória de seguidores esfuziados com o disparate! 
É preciso mesmo exercitar a paciência. 
MUITA PACIÊNCIA.
"No fim é só fantasia de um carnaval inexistente." (Nei Duclós)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ver além do olhar.
Sentir além do perceber.
A nudez é sempre bela.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pra não dizer que eu não falei da alegria...


Lembro-me daquela praia
e da primeira vez que chorei ao ter de me despedir do mar

Lembro-me também de meu pai pescando ao pôr-do-sol com seu chapéu
e de capturar aquele raro instante do seu semblante sereno e feliz

Lembro-me de minha mãe cantarolando cantiga de ninar enquanto passava roupa
e de quanto me sentia segura, implorando pra que aquele momento não acabasse nunca mais

Lembro-me de dormir no mesmo quarto com meu irmão, que nas minhas infindáveis noites insones dormia como um anjo 

e, ao olhá-lo, eu podia fazer de conta que não estava sozinha

Lembro-me da primeira vez que alguém confiável me ensinou a transgredir saudavelmente as regras
e de como foi delicioso me lambuzar toda comendo aquele doce com as mãos

Lembro-me da primeira vez que andei de bicicleta e não caí,
contrariando todas as probabilidades

Lembro-me do primeiro beijo que não foi apaixonado, mas foi melhor (foi roubado)
e desse susto que me fez sonhar por noites inteiras

Lembro-me daquele olhar que primeiro, não entendi, segundo, não acreditei,
mas que depois me convenceu que eu era a mulher mais linda do mundo

Lembro-me do primeiro sonho impossível realizado: o grande amor
o que me fez acreditar que tudo era possível

Lembro-me do primeiro salário que me trouxe a sensação de poder
e me deixou saborear por alguns instantes uma fantasia de liberdade

Lembro-me de Natais
e mesmo que Deus não exista, eu Lhe sou muito grata por nos dar esses pretextos

Lembro-me também de acreditar que o ano que apenas se iniciava era novo
e que então tudo seria diferente e melhor

Lembro-me de me culpar por não ser o que devia ser
e, de repente, me pegar sorrindo sozinha no meio da noite ao ajeitar os cobertores de três meninas que dormiam

Lembro-me que pari
e que, inacreditavelmente, ele nasceu e o mundo nunca mais foi o mesmo

Lembro-me de outra praia, do riso solto do filho de quatro anos a correr em círculos com seu pai em torno a nós, 

deixando-nos, eu e a avó, tontas de tanta paz

Lembro-me de que ele foi embora, me matando naquela noite
e que depois voltou de joelhos

Lembro-me de todos os “perdão” e “obrigado”
que nem sempre remetem a uma alegria, mas fazem uma deliciosa compressa quente no coração

Lembro-me de acreditar desconfiando
e de explodir de exaltação ao confirmar: “Eu sabia! Por que duvidei?”

Lembro-me de olhares silenciosos de aprovação,
mesmo que as palavras não dessem o braço a torcer

Lembro-me do dia que, surpreendendo a plateia de “experts”,
meu projeto de iniciante foi super elogiado (yyyessssss!)

Lembro que, quando já parecia impossível, passei no vestibular, tornei-me bacharel
e que depois, mais uma vez inexplicavelmente, ganhei uma bolsa de estudos e concluí o mestrado em filosofia

Lembro-me de uma incrível festa-surpresa de despedida
que incluiu algumas pessoas pra sempre no meu coração

Lembro-me de ombros amigos, de choros compartilhados, de gargalhadas intermináveis às vezes regadas a vinho ou cerveja
e de tanto amor recebido de um modo que jamais pensei merecer

Lembro-me de presentes que nunca poderei retribuir
mesmo porque amor não se retribui, apenas se sente

Lembro-me de pisar na Itália pela primeira vez
e de me deixar invadir por todos os cheiros tão meus, matando a saudade do que ainda não tinha vivido

Lembro-me de todas as vezes que me olhei em reflexos de janelas (de casas, trens, ônibus), observando as mudanças em meu rosto
e de todos os meus sorrisos sempre que reencontrei o mesmo brilho no olhar

Lembro-me de tantas coisas que já imaginei, de todos os futuros que já inventei
e me pego sorrindo com um “quem sabe?” entre os dentes 

Lembro-me de sentir uma profunda gratidão
e de chorar convulsivamente feliz

Lembro-me de alguém que me tocou a alma 
e eu nunca mais fui a mesma: finalmente, fui eu mesma 

Lembro-me  “daquele” olhar
Lembro-me  de abraços
Lembro-me  de músicas e de poesias
(essas coisas dispensam explicação)

E me lembrando de tudo isso e de mim,
desafio o tempo, apostando no próximo instante...

domingo, 22 de abril de 2012

Fragmento 220412

Mal entrevi a fresta do mundo quando abri os olhos.
Era claro demais para séculos de sombras.
Não era possível abarcar a imensidão que explodia pelo rasgo da lucidez num segundo.
Suguei aquele golpe de ar, soco rebatido no peito.
Era hora.
Retomei a força do susto e me lancei para o voo... sem volta.

sábado, 21 de abril de 2012

Inspiração pra fazer poesia? Nada...
Inspiração é preciso pra fazer Imposto de Renda, isso sim!

Liberdade

Já pensou? Nunca mais escrever a mesma palavra com o mesmo sentido?

domingo, 8 de abril de 2012

Bruma


Abre os olhos e me vê: nua 
alma exposta sem rodeios 
natureza de corpo inteiro 
manhã de palma aberta 

Na penumbra, uma pintura: 
tua vista meio turva 
toca a pele e eriça o pelo, 
chispa oculta que incendeia 

Entre o braço e a certeza 
do enlace sem limite 
uma doçura inunda o curso 

No estribilho deflagrado 
sorves lento a chama pura 
vertendo bruma em desmaio...

sábado, 7 de abril de 2012

L'amore è quando si ha una voglia incontrollabile di dire ciò che non ha bisogno di essere detto.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Demiurgo



O verso que canto só tu entendes, Dionísio 
é tua mão que o escreve enquanto sangro
Da carne do mundo, me trouxeste à tona
no teu âmago, me entranho

por teu fôlego, respiro

Não sei me dizer sem ti, demiurgo
teu olhar revela a minha fala
Teus sinais mapeiam meus estigmas
no teu sal, me ralo
no teu mel, me curo

Nada mais me resta que desaguar em ti, desatino
no teu ser, naufrago minhas dúvidas
Da tua vontade, brota meu desígnio
por tua dor, me rendo
por teu amor, eu vingo

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quando tudo volta ao normal, eu não volto.
Prefiro me exilar na possibilidade de ir adiante.

Por mais que isso doa. 
É uma questão de sobrevivência.

Desperdício

Tara sem atino
abraço sem enlace
beijo seco

Sonho no escuro
grito surdo
aborto do desejo

Amor de marionete
máscara transparente
reflexo trincado

Salto sabotado
trilha sem saída
fuga para o abismo

Impulso abandonado
tesouro esquecido
fingir que a dor não tem sentido

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fragmento 030412


“Não queria pensar nisso agora; voltou para o cheiro de capim...”

Concentrou-se: cheiro de capim, cheiro de capim... inútil.
As buzinas, os faróis, o caos da hora do rush o tragavam de volta para aquele inferno e ele sentia dissolver-se na multidão. Parecia que pela primeira vez observava de verdade aquela miscelânea de gente. O que era aquilo? Frenesi de olhos ávidos de sabe-se lá o quê e cegos para o entorno. Ouvidos conectados em celulares ou mp3. Bocas com gosto de chiclete gasto falando com alguém que não está ali, como se falassem sozinhas. Narizes entupidos de cheiros cruzados. Contatos imediatos com a ausência: de tato. Sentidos embotados. Lembrou-se da canção do Chico... “Construção”: “seus olhos embotados de cimento e tráfego”. É, a canção ainda era válida, com a diferença que agora eram todos os sentidos que estavam embotados. Mas, pensando bem, ao menos tato ainda existia sim: a gente agora não pede mais licença; passa por cima. E então é possível sentir o “contato humano” atropelando calçada a fora.
Contato humano: o que era isso? Toque de corpos, pele? Lembrou-se da garota da última vez: pele branca, cabelo vermelho, beleza de revista, celular gravado pela manhã antes dela desaparecer... qual era o nome dela mesmo? Sentiu frio. O termômetro digital no meio da avenida marcava 26ºC; quente para as 19:30 h de um dia de outono.
Outono... a janela de casa, no cair da tarde, emoldurava a paisagem: as árvores se perpetuavam como estátuas nuas em contornos imprevisíveis; o vento esculpia imagens tão etéreas quanto efêmeras ao erguer as folhas do chão. O cheiro de feijão se infiltrava na fantasia do mundo fantasmagórico daquela hora outonal, aumentando o apetite e trazendo a sensação de realidade de que mais um dia terminaria em paz. Cheiro de feijão... Nunca mais sentiu "aquele" cheiro de feijão.
Ele se deu conta de que estava com fome, mas era melhor esquecer. Não ia jantar, não dava: tinha que esperar o pagamento. Ainda bem que faltava pouco: quatro dias. Começou a pensar no que iria jantar dali a quatro dias... humm... ao menos por um dia, ele iria comer gostoso de novo. Péssima ideia ter prestado atenção na fome; enquanto não se pensa nela, ela parece menor, um incômodo não identificado. Agora, não ia ser fácil despistar a danada. Pensando bem, achava que tudo era meio assim: o que não é bom, a gente ignora, faz de conta que não existe. Afinal, a gente inventa tudo, não é mesmo? Pra que inventar de sentir coisa ruim?
Mas aquela gente ali absurda, ele não tinha inventado não. E ele era completamente ignorado por aquela multidão. Sinal que, para eles, ele não devia ser boa coisa... Essa sensação não era boa. Pra que ficar pensando nisso? Era melhor fazer como eles: não ver ninguém. Pensando bem, ele sempre tinha feito isso... por que agora tinha cismado de VER todo mundo, tudo aquilo?
Sentiu a pressão do povo se aglomerando em volta, esperando o semáforo abrir para atravessar a avenida. O “homenzinho vermelho” está queimado, resta esperar acender o verde. O empurra-empurra é incômodo; as pessoas mal se olham e quando o fazem é com cara de saco cheio. De quê? Talvez estejam cansados e com fome como ele; talvez também sintam o frio da solidão. Talvez a cara de “poucos amigos” seja uma máscara que deva servir como armadura caso alguém resolva saber realmente “quem é você”.
E, realmente, quem era ele? Ele também fazia aquela cara de “poucos amigos”, embora tudo o que quisesse naquele momento era um prato sincero e um abraço quentinho. Foi então que ele a viu...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

domingo, 1 de abril de 2012

Abraço nu


Preciso de um canto só
no quarto escuro
no seio da noite
no veio da morte
que me acolha enquanto me dispo e renasço

Preciso de um abraço nu
de corpo inteiro
de aperto meigo
de braço forte
que me sustente enquanto choro e arregaço

Preciso de um olhar em mim
que me guarde
que me oriente
que me nutra
pra me salvar da realidade que me mata


Fragmentos 010412

Mentira em homenagem ao dia: cada um tem o que merece.

Mentira. É sempre tudo mentira quando convém.

Prendo o choro e solto o riso, lamentando o equívoco...

Sentimos duas dores misturadas como se fosse uma: 
a falta do ser amado e a falta de ser amado.

Fiz um pacto secreto com o espelho. Tá lendo o que? Isso é entre ele e eu.

Cansadíssima, mas a vida insiste...

Nossos corpos não são fronteiras, são pontes. 
(às vezes, realmente me confundo... alguém já disse isso? é tão meu que não sei!!!)

Loucura é o estado normal de quem se liberta das convenções.

Você passou tão perto e tão rápido... teu vento levantou o meu vestido.

Tinha duas escolhas; preferiu não escolher.

Antigamente eu esperava ansiosamente pelo domingo; hoje, ele me desespera.


Cruzada


Dois corpos - Escultura de Michael Wilkinson

Não sei andar sozinho por essas ruas
sei do perigo que nos rodeia pelos caminhos 
Não há sinal de sol mas tudo me acalma
no seu olhar

Não quero ter mais sangue morto nas veias
quero o abrigo do seu abraço que me incendeia
Não há sinal de cais mas tudo me acalma
no seu olhar

Você parece comigo
nenhum senhor te acompanha
você também se dá um beijo
dá abrigo

Flor nas janelas da casa
olho no seu inimigo
você também se dá um beijo
dá abrigo

Se dá um riso
dá um tiro

Não quero ter mais sangue morto nas veias
quero o abrigo do seu abraço que me incendeia
Não há sinal de paz mas tudo me acalma
no seu olhar

Você parece comigo
nenhum senhor te acompanha
você também se dá um beijo
dá abrigo

Flor nas janelas da casa
olho no seu inimigo
você também se dá um beijo
dá abrigo

Se dá um riso
dá um tiro

Você parece comigo
nenhum senhor te acompanha
você também se dá um beijo
dá abrigo 

Você parece comigo
nenhum senhor te acompanha
você também se dá um beijo
dá abrigo 

Você também se dá um beijo
dá abrigo