era pior:
era uma dor sem gosto
eutanásia da aurora
aborto da saudade
estaca funda no peito
sufocando o grito

Nossa beleza é incomum: 

não somos óbvios

Non so come scriverlo, perché non è una poesia: è un bacio...

São Paulo

(Foto da Galeria de Brivilati)

São Paulo não demora, é todo dia. 
No farol, retoco o lápis;  
Rabo de olho, me dou conta: 
Pauliceia em pleno rush... deusa encalacrada

Teia de nervos, seiva eletrizante.  
Acordo em meio ao transe. 
Automática.  
Sempre alerta.
Toda misturada.

Respiro tua fumaça e suspiro...
Teus rangeres incessantes me garantem: 
Está tudo bem
Estou em casa

Os intervalos sem você são eternidades de suspense. 
Fico surpresa ao descobrir 
quanto tempo consigo ficar sem respirar...

"Insuportável quando te afastas. 
Abre o apetite de devorar distâncias." 
(Nei Duclós)

Fico assim
Esquecida de mim...

"Não me lembro mais qual foi nosso começo.
Sei que não começamos pelo começo.
Já era amor antes de ser..." 

(Clarice Lispector)

Essere con te è provare l'eternità 
Quando non ci sei, tutti i secondi finiscono in se stessi...

"Poesia é uma criança, que senta aos pés da Memória para escutar o Tempo." (Nei Duclós)

Ópera-bufa

Entorno o cálice, sem medo
Teu veneno brinda a minha derrota
Já não nego o meu desejo
Resistir é falsa pantomima

Engulo o teu olhar altivo, ego em riste, que vitória!
Meu amor desmancha-se em acordes
Restos mortais da ópera-bufa
Que encenamos atrás dos palcos

Por caminhos dissonantes nos perdemos
Procuro o meu amor
Teu fantasma
Sem história

Não há nada de amor no que escreveste para mim
Mas tento ler na mensagem
o que me dizem teus olhos
nas entrelinhas...

"Antes de amar-te, amor, nada era meu [...] 

O mundo era do ar que esperava."

(Pablo Neruda)