sexta-feira, 28 de junho de 2013

invento esse amor todo dia
às vezes, cansa e desisto
então, morro um pouco
e aos poucos
morro um dia
"Quase foi-se o dia e nem lembrei que estavas longe. 
Levaste a luz contigo, memória viva.
O mundo recuperou o tom cinza do tempo
em que não te conhecia."
(Nei Duclós)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

S’amor non è

(Se amor não é - tradução abaixo)

Francesco Petrarca

S' amor non è, che dunque è quel ch' io sento?
Ma s'egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond' è si dolce ogni tormento?

S'a mia voglia ardo, ond' è 'I pianto e 'I lamento?
S'a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s'io nol consento?

E s'io 'I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trovo in alto mar, senza governo,

Sí lieve di saber, d'error sí carca,
Ch' i i' medesmo non so quel ch' io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardendo il verno



Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?

Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.

E se eu consinto sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.

É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.

(Tradução de Jamil Almansur Haddad)

domingo, 16 de junho de 2013

Arena de vidro

Imagem retirada do site http://www.brasildefato.com.br

Os heróis se insurgem sem líder
Entrelaçados por fios invisíveis
Desentocam velhos leões
Que, famintos, apresentam suas garras

Cicatrizes antigas se abrem
Nas ruas de sangue da história
Se erguem barricadas de flores
Contra os domadores da plebe

Vivem eles ainda no outrora
Antes mesmo da bateção de panelas
Quando o exílio era a misericórdia

Esquecem que os olhos de agora
Se espalham além dos confins
Das paredes de vidro da arena
Não conhecemos nossas superfícies, nossos relevos...
Somos um encontro de magmas
Por isso, essa confusão incandescente

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Miserável sina

Amo-o tanto
que o deixo ir
como se pudesse
orbitar sua aura
e viver assim
num vento em transe

Seria fácil
não fosse o cheiro
a exalar por dentro
o que me enlouquece
o homem forte
minha raiz em sangue

Farejo os cantos
miserável sina

busca em vão
na espiral de espelhos

nada é mais só
do que o esquecimento

O meu consolo
é seguir suas pistas
e vê-lo herói
conquistando o mundo
enquanto guardo
seu cansaço em mim

Amo-o tanto
que a dor sorri
mesmo caindo
nesse abismo insano
por viver a gana
desse amor sem fim

domingo, 9 de junho de 2013

Antecipo o instante um milhão de vezes sem alcançá-lo 
e quando ele me toma como uma onda, é impossível contê-lo...


domingo, 2 de junho de 2013

Incubus

Clio Francesca Tricarico

Me tolhe do meu sonho sem aviso 
diante do seu poder, me rendo 
silencioso em mim se infiltra inexorável
em torrente caudalosa 
de homem 
de verbo 
de gana 
de sede 
de mundo 
percorre minhas veias em lavas sórdidas 
me sorve, me devora, possuído 

Toma meu rumo, minha fala, minha agonia 
não sossega se não arranca o último grito 
não se sacia se não esgota todo o sumo 
de mulher 
de terra 
de canto 
de gozo 
de fundo 
exaurida, perco o passo
perco o verso 
ganho tudo 

Alucinada pelo torpor que me mistura 
entre tons audaciosos e sublimes 
em rodopios arrastada por seu ímpeto 
resta apenas o desejo da catarse: 
ser sua palavra
sua carne
seu expurgo 

Desesperada por não sair do seu domínio 
me deposita lentamente no meu tempo 
impregnada do seu ser fogo e vento 
tudo aquilo que incorpora e não diz

Sinto dentro 
o que rouba o fiato, a fala 
excesso que desatina
o que não está na palavra... ainda...

Medo.

(in Nosside 2012 - Antologia del XXVIII Premio Mondiale di Poesia)