segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Meia-noite.
O calendário vira mais uma página.
O universo segue seu curso sem se dar conta.
A humanidade fecha os olhos por um segundo, à espera de um milagre.
Eu não acreditaria em nada, se não sentisse um beijo em minh'alma...

domingo, 30 de dezembro de 2012

A porta



Fechada para balanço, olho para aquela porta que só vemos quando fechamos os olhos. Está cheia de pó. Faz muito tempo que não me visito. Fico ali, diante dela, indecisa quanto a abri-la; a decisão oscila entre a curiosidade e o medo. Não me lembro de quando foi a última vez que a abri... anos talvez? Mas o tempo da alma não está atrelado ao calendário e, portanto, sinto que faz algumas eternidades.
A curiosidade vence o medo e estendo a mão para a maçaneta; giro-a lentamente. A porta não se solta, está emperrada. Sei que para abri-la devo reunir todas as minhas forças e destravá-la junto com a minha mandíbula ao som de ranger de dentes. O que terei feito de mim?
A abertura é excruciante, o processo dói nas entranhas, nos ossos; lembro-me de que a dor é sempre um parto: ao final, sente-se o alívio, uma espécie de libertação pela missão cumprida. Então, evoco a deusa imaginária que me habita, respiro fundo e me puxo para fora. Entrar em mim é fazer com que eu saia. É provocar um novo big bang na minha história. É começar a chacoalhar meu esqueleto para espanar as suas teias. É recontar os fatos sob o novo prisma, o desta mulher que desconheço.
Imagens em flashes me ajudam a resgatar raízes. Algumas, podres, precisam ser podadas; outras, vigorosas, transmutam meu gene. Olho, maravilhada, para a transformação e, ao mesmo tempo, sinto pena da mulher que devo deixar morrer. Na verdade, da mulher que devo matar: suas raízes velhas obstruem caminhos, enroscam nos nervos, pesam nos ombros. É verdade que sem ela, eu nada seria. Também é verdade que ela sempre fará parte de mim, mas em miasmas... como todos os outros que me nutrem, miasmas do mundo, fantasmas de histórias que precisam ser relidas, reinventadas, renascidas.
Todo nascimento é uma morte. É a constante negação do mundo e, por isso mesmo, a chance de sua perpetuação (ahhh... filosofia!). É a abertura de uma porta para o desconhecido. É a ousadia de se atirar para a vida que virá a seguir. O pior apego que temos é aquele que sentimos por nós mesmos. Só posso sentir saudade daquilo que não vigora... 
Já que é assim, escancaro a porta! Liberto meus fantasmas, meus miasmas, para que sirvam de adubo à substância amorfa do mundo. Brado a minha vitória! Esvazio meus porões para finalmente sentir saudade de mim...  

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mi sorprendi facendo quello che sarebbe normale,
come se ogni piccolo gesto non fosse tutto.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Meia-noite
Amores proibidos saem de mãos dadas
Só podem ser vistos pelo brilho da Lua
Que surge em cada íris
Nua

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pra sempre é um estado de espírito que, como tudo, passa. 
Passa a ser outro estado de espírito que pode ser... 
pra sempre...

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mordaça

Arranho o céu da boca, mas não solto
este ardor, este ranger de dentes
Escrúpulo se mantém com rédea curta:
mordaça contendo a fúria...

sábado, 24 de novembro de 2012

"...é o poder da linguagem que transmuta vivências em histórias." (Nei Duclós)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Amor sagrado

Amor Sacro e Amor Profano - Tiziano

De todos os meus profanos amores,
és o sagrado, o inconfesso
O que dita, a cada verso, 
o que hei de ser, 
sem que eu permita 

O consentimento é compulsório 
desde o pacto: 
o toque inesperado, 
involuntário, 
cegamente desejado 

Do encontro planejado pelo Acaso, 
fez-se a trama: 
cada instante costura 
um novo ponto em nossa carne 

O verbo nos mistura 
O tempo nos degusta 

Pobres amantes condenados! 
Buscamos extasiados saciar a nossa fome, 
a ânsia do próximo sabor inusitado: 
qual gosto nosso ainda não foi provado...

domingo, 18 de novembro de 2012

Único


Enrolo-me de novo em minhas cismas,
emaranhado de espinhos.
A cada movimento me firo,
sem saber se estou achando a saída
ou mergulhando mais fundo.

Encolho-me;
como se fosse possível
adentrar nas próprias estranhas.
Como se fosse plausível
rasgar passagens
que me levassem ao cerne de tudo.

Faço de conta que estou no colo
de alguém que me protege do frio,
que consiste nesse insuportável
reconhecer-se único no universo.
Ninguém sabe de mim.
Nem eu.

domingo, 4 de novembro de 2012

Di nuovo, notte
Chissà per quanto tempo ci sarà questa volta
Silenzio
Sento tutto
Nel buio, non si vede niente
Ma dentro, c’è luce
Forse sia tutto vero...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012







Hoje, as palavras não se aguentam 
rodopiam inquietas em cirandas 
se misturam ao sabor do voo livre 
só pra criar um verso 
que exploda em arco-íris

sábado, 27 de outubro de 2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Esfinge




Procura-me amanhã
quando a noite tiver virado a página
e a lápide já estiver escrita

Nem cem mil anos de areia cobrirão
essa vertente que transborda, incessante,
a solidão do mar aberto no meu peito

Os ecos do teu nome se perderam no abandono
Meu destino é caçá-los para ouvir a tua ausência
e, do som desse vazio, moldar a tua esfinge


Ela será meu norte na minha cabeceira...

Frammenti atemporali

La sua mano teneva un mistero
svelato solo nel mio collo
I suoi effetti sono stati soltanto l'inizio
di un desiderio senza fine...

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

domingo, 21 de outubro de 2012

Não passou

(Carlos Drummond de Andrade)

Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão - a tua mão, nossas mãos -
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Scrivo a te usando ogni parola del dizionario,
ad eccezione di una

Tutte le parole che scrivo significano esattamente quella che non dico

terça-feira, 9 de outubro de 2012

domingo, 7 de outubro de 2012

Saudade


Os balanços do dia e da vida
se encontram no final da tarde

Me esqueço.

Fico à mercê desse amor sem dono
andando descalço no tombadilho

Tento reter o último gosto
de deleite: a tua lembrança

Saudade.

A brisa da noite
traz teus ares do leste

Inspiro sorvendo mares
Suspiro exalando amores

Além do mar
está meu horizonte

Em ti,
o infinito

Epílogo


O vento desfolhou o livro de cabeceira 
e a história se perdeu no tempo. 
Em qualquer página extraviada, 
está o ponto de partida. 
Não importa a direção: 
o sentido nos pertence. 
O desfecho, não.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Outubro

Nei Duclós


Trago a nova: eu mudo
lento, e é tudo
Sinto ser assim
por estações: aos turnos

Posso voltar
ao ponto de partida
mas luto

Sei que vem outubro
Flores, fruto de seiva
romperão no mundo
(Trabalho duro:
sugar de pedras
rasgar os caules
colher ar puro)

Lento e bruto
eu mudo
Sei que vem
outubro

domingo, 30 de setembro de 2012

No mar das possibilidades, oscilamos entre a bonança e a tempestade numa probabilidade nunca justa. Vida é desequilíbrio. Ilusão acreditar em qualquer tipo de permanência, que se possa escapar do estar para o ser. Ser é estar. Estar é sempre aberto; por isso somos eternos. Somos eternamente estados em mutação: o que garante o "ser eterno" são as infinitas mortes de identidades finitas.
Perdida a pensar sobre a possibilidade de toda a existência,
dou-me conta de que tudo o que eu quero agora é um café. 
Bem brasileiro, puro, forte, encorpado. 
Que, ousado, me invada as narinas e me desperte o cérebro.
Que, quente, me desça goela abaixo e me acalme as entranhas.
Quanto ao céu e ao inferno, quem morrer, verá. 
(ou não...)
São só palavras.
E isso é tudo.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

A manhã do amanhã

Era um domingo morno, quando eu e meu filho resolvemos surpreender a manhã.
À revelia da panela no fogo e do compromisso logo mais, não tivemos dúvida:
começamos a dançar um velho e bom jazz na cozinha.
Milagrosamente, nem o telefone, nem a campainha, nenhum celular tocou. Só o jazz tocava displicente, indiferente aos dançarinos improvisados.
Solenes, de pijamas, eu e meu rapaz, no auge dos seus vinte anos, adentramos a eternidade por quatro minutos dançando um jazz na cozinha...
Como se fosse óbvio inventar o inusitado.
Como se fosse fácil segurar o peito em fogos de artifício.
Altivos no átrio do castelo. Silenciosos na empatia do momento sublime.
Certos sabores nos fazem exalar asas de borboletas.
Dancei perpetuando cada passo do modo como queria lembrá-lo no futuro...
Dancei abraçada ao príncipe que parte para o mundo, intensificando a concretude do laço, sentindo, já com saudades, o último toque no bastão que passo adiante: momento em que fechamos os olhos, soltando sem querer largar, e então depositamos naquele instante tudo o que temos: nossa fé.
No meio da dança, olhei pra ele: tinha mais sol no seu olhar do que se pode encontrar no universo inteiro!
A vida estava ali, borbulhando diante de mim, naquele cavalheiro imponente, respeitoso e audaz: meu menino...
Senti o arfar do jovem destemido e vigoroso e lhe disse: “Respira...”
Respiramos juntos.
E então, ele me fez girar todas as piruetas: Fred Astaire e Ginger Rogers não fariam melhor! Girei, girei... todos os anos de escola, todos os tombos e risos, todos os sonhos libertos... Continuamos dançando até que o jazz foi ralentando seu destino e... acabou.
Entreolhamo-nos satisfeitos: ele saltitando ingenuidade, eu sorvendo cada gota daquele êxtase.
O silêncio se encheu de uma ternura azul até que começou a tocar faixa seguinte.
Ele foi jogar basquete.
Eu fui regar as plantas.
E o domingo seguiu em paz.
Às vezes, sinto saudade do simples
De quando só precisava de água e sabão
De quando tudo era sim ou não...

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Flutuando numa bola de sabão,
ansiosa por uma súbita rajada de vento...


Voa, voa, pássaro infinito
Pinta o céu com tuas asas 
Faz um pio de silêncio 
Que é pro mundo dormir em paz...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ho scritto il tuo nome 
per vedere se succedeva qualcosa.
Nulla.
Solo una palpitazione 

ogni volta che leggo.

domingo, 2 de setembro de 2012

Vivemos continuamente a morte de cada instante
Vivemos continuamente a morte, a cada instante
Corrente alternada
Entre o esquecimento e o sim

Tão assim

Nunca me soube tão funda
tão sem fim
Tanta dor não tem cabimento
mas cabe em mim
Não sei por que ainda invento
um amor assim
Para o juízo, o maior benefício é a dúvida.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Quando vamos embora, todo nosso acervo, o que vimos, ouvimos e lemos, se esfarela. Seus pedaços grudam no teto do Tempo. São como gotas de mel que o fim do arco-íris libera ao sacudir o pote." (Nei Duclós)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

As sem-razões do amor

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Oggi

Oggi è il giorno
ci sei, senza sapere
ci sei, senza volere
ci sei

Oggi è il senso
dell'istante che non passerà mai
del segreto che guarda il vero
dell'eterno presente in me

Oggi
più che mai, oggi
la lacrima sorride nel buio
serena perché porta in se
il tempo in cui
ci sei

domingo, 29 de julho de 2012

Trégua

Quando o olhar atinge o alvo,
melhor não ver?
Quando o menor ruído assusta o mundo,
melhor calar?
Quando o mais discreto gesto perturba o sono,
melhor parar?
Quando o longínquo aceno rouba a cena,
melhor sumir?

Melhor ouvir
o coração calado em prece
Melhor sentir
a lâmina que corta a noite
Melhor deixar
o tempo tomar seu rumo
Melhor saber
a hora de baixar as velas

E esperar.

Às vezes, ceder é tomar fôlego
às vezes, é preciso ficar à deriva
às vezes, lutar é desatino
Às vezes...
mas, só às vezes,
é melhor fazer de conta
que a gente deixa pra lá

quinta-feira, 26 de julho de 2012


A vida tem passagens secretas.
Descobri quando, 
atrás da tua máscara, 
encontrei meu rosto...


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Insone



Cabeça no travesseiro: inútil
o sono ignora os olhos cansados
contagem regressiva pro infinito
vazio rasgado por escombros

Hora que não passa: pesadelo
hora de lembrar o que o dia não deixa
hora de esquecer o que a noite desperta
hora de rezar pra que o mundo acabe

Mas a vigília não desiste: insiste
O relógio rege o metrônomo austero
como a aporia que martela a ideia
como a tua imagem que não perdoa...

terça-feira, 24 de julho de 2012

"Eu não sentia nada. Só uma transformação pesável. 
Muita coisa importante falta nome." (Guimarães Rosa)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Passo a noite te procurando em meus rascunhos,
mas sempre apareces no verso ainda não escrito...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Clinâmen

Retirado da Página La Bioguia

Não existe nada mais casual que a ordem natural.
Somos livres porque somos esse formidável acaso...

terça-feira, 17 de julho de 2012


Olho pela janela 
neblina 
Leio os lábios do vento 
segredo 
Tenho um pressentimento 
sorrio 
Não durmo contando os minutos 
minha sina

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Obra de Pino Daeni




Saudade 
acervo de esperas 

O vento leva o cheiro 
e traz o anseio 

A noite pede o aconchego 
que não veio 

O tempo para no sonho 
pra tomar fôlego 

Mergulha no esquecimento 
pra voltar límpido à tona 
(sem nenhum remorso 
por ser ingênuo) 

Na aurora 
silêncio 

As águas na superfície 
estão calmas 

Mas submerso 
o amor 
espera o tempo


domingo, 8 de julho de 2012

São palavras soltas que nos amarram à existência; são elas que nos permitem, logo em seguida, mudar de ideia, de planos, de sonhos. Somente soltas, nos libertam de nós mesmos.
Toque


Basta um toque teu 
e explodo em purpurina...

sábado, 7 de julho de 2012

"Il tempo è la cosa più importante: esso è un semplice pseudonimo della vita stessa." (Antonio Gramsci)


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Tua aparição é como uma estrela cadente.
Quando surge, faço um pedido: fica!
Quando vai, faço outro: volta...

quinta-feira, 5 de julho de 2012



Lo scrittore è solo il medium tra l'universo e le parole.


L'amore è solo il medium tra me e te.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

Per amore (con Zizi Possi)


Io conosco la tua strada
ogni passo che farai
Le tue ansie chiuse e i vuoti
sassi che allontanerai

Senza mai pensare che
come roccia 

io ritorno in te...

Io conosco i tuoi respiri
tutto quello che non vuoi
Lo sai bene che non vivi
riconoscerlo non puoi

E sarebbe come se
questo cielo in fiamme
ricadesse in me,
come scena su un attore...

Per amore,
hai mai fatto niente
solo per amore?
Hai sfidato il vento e urlato mai?
Diviso il cuore stesso
pagato e riscomesso
dietro questa mania
che resta solo mia?

Per amore,
hai mai corso senza fiato?
Per amore,
perso e ricominciato?
E devi dirlo adesso
quanto di te ci hai messo
Quanto hai creduto tu
in questa bugia

E sarebbe come se
questo fiume in piena
risalisse a me,
come china al suo pittore...

Per amore,
hai mai speso tutto quanto la ragione?
Il tuo orgoglio fino al pianto?
Lo sai sta sera resto,
non ho nessun pretesto
Soltanto una mania
che resta forte e mia
dentro quest'anima che strappi via...

E te le dico adesso,
sincero con me stesso,
quanto mi costa non saperti mia...

E sarebbe come se
tutto questo mare
annegasse in me...
Che io non perda mai la voglia di amare
che questo è l’ultimo respiro che resta
l’ultimo canto del cuore
l’unico rimpianto che vale la pena
"Eu acredito naquilo que me vê." (Nei Duclós)
"Uma página em branco é a virgindade mais desamparada que existe." (Mário Quintana)

sábado, 30 de junho de 2012

Me distraio com quinquilharias.
Faço o maior esforço.
Mas quando a noite fecha meus olhos, 
nada mais me ilude:
sou obrigada a te encarar em cheio.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Não sabemos quando será nosso último "boa noite"...
Qual será a última imagem, o último som, 
nosso último pensamento.
Desejo que minha última palavra seja inédita.

Cirandinha digital

Cidade do Filme Tron


Às vezes, me pergunto se você é um holograma
se te inventei numa noite insone
ou se você fugiu de algum sonho 

e se perdeu na realidade

Aí, me lembro que você é virtual como eu 
e fico em dúvida pensando 
se nós existimos mesmo 
ou se não passamos de personagens de verdade

terça-feira, 26 de junho de 2012


Di tutte le mie vite, vivrei di nuovo 
ogni caduta, ogni dolore
e ancora morirei tutti le mie morti
ogni paura, ogni volo
per quell'istante in cui ho riconosciuto il tuo sguardo

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Era tarde.
Exausto, o amor suspirou 
como um anjo cansado...

Obra de Alfredo Araujo Santoyo

Meia noite... 

Os poetas começam a tecer suas rendas de suspiros. 
Sopram notas que se perdem em trilhas de fumaça. 
A noite se encarrega de reger a sinfonia. 
Tão bela e tão triste. 
A Lua é a única companheira da solidão.  
que tropeça pelas ruas sem destino...


terça-feira, 19 de junho de 2012

Seu olhar (Gilberto Gil)


Há no seu olhar
algo que me ilude
como o cintilar
da bola de gude
Parece conter
as nuvens do céu
as ondas brancas do mar
astro em miniatura
micro-estrutura estelar



Há no seu olhar
algo surpreendente
como o viajar
da estrela cadente
Sempre faz tremer
sempre faz pensar
nos abismos da ilusão
Quando, como e onde
vai parar meu coração?


Há no seu olhar
algo de saudade
de um tempo ou lugar
na eternidade
Eu quisera ter
tantos anos-luz
quantos fosse precisar
pra cruzar o túnel
do tempo do seu olhar

Artifício

Eros e Psique - Canova


Não era amor.
Era só eu em fogos de artifício
Artifício que usaste no bilhete
pra me flechar com teu veneno, Eros avesso


Não é dor, é pior.
É acordar do surto sem sentido
constatando a tua ausência tão real
e ir desmanchando a cada palmo de lençol

segunda-feira, 18 de junho de 2012

"Vá embora, estou chorando. Nenhum amor sobrevive se houver piedade. Prefiro que me mates com teu beijo." (Nei Duclós)

sábado, 16 de junho de 2012

Pressinto o suspense: ele tem teu cheiro. 
Minha ansiedade pulsa em carne viva.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

"E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la que não reparamos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser. . ."

(retirado de O Eu profundo e os outros Eus de Fernando Pessoa)
"Não é falta de tempo.
Amor é a eternidade do encontro."

(do poema Serena de Nei Duclós)
http://outubro.blogspot.com.br/2012/03/serena.html
E na noite respiro lentamente,
filtrando todo o barulho de meus pensamentos errantes,
pra escutar só o que me escondes...
o que sinto.

sábado, 9 de junho de 2012

Não me conformo quando alguém me exprime tão francamente em minúcias tão humanas... :)


"Finges que não é contigo, me deixando indeciso entre a realidade e o sonho. Como se eu inventasse o que me dizes com teus olhos famintos."

"Não sou invasivo. Mas não caia na asneira de acenar de sua gruta se não quiser que eu chegue."

"Achas que sou feito de algum material sem sentido. Não imaginas o sangue que tenho para inventar o amor que jogas no lixo."

"Enquanto me comporto vejo como se passam contigo. Deveria desistir mas me contrario. Vou bater na cara de todos esses cretinos."


(Trechos retirados de Neblina de Nei Duclós)

Adoçando um pouco o sábado...



Assim
que o dia amanheceu
lá no mar alto da paixão,
dava prá ver o tempo ruir
Cadê você? Que solidão!
Esquecera de mim?

Enfim,
de tudo o que há na terra
não há nada em lugar nenhum
que vá crescer sem você chegar
Longe de ti, tudo parou
Ninguém sabe o que eu sofri...

Amar é um deserto e seus temores
Vida que vai na sela dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor...

Vem me fazer feliz porque eu te amo
Você deságua em mim e eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor...

Só sei viver
se for por você!
"Quieto, coração, que já provaste a eternidade."
(do texto A trapaça do tempo de Nei Duclós)
Dor muda.
Medo.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

E através de olhos vazios
preenchia minha saudade tocando teu rastro
adivinhando teu contorno entre os traços
aspirando teu cheiro dentre as tintas
te enredando em meu sonho inacabado...

quinta-feira, 31 de maio de 2012

No meio da tarde

Cartório, banco, correio, farmácia.
Fila, fumaça, buzina, inferno.
Cansaço.
Café!!!
Entro numa dessas padarias high tech que povoaram maravilhosamente a Mooca e o Tatuapé nos últimos tempos.
No meio da tarde, no meio da semana, no meio da vida.
Só tem um banquinho vago no balcão entre dois senhores - é uma coisa muito ligeira, não quero ir pras mesinhas.
Sento-me no banco apressada; por quê? Ah sim... o curso no final da tarde, já está quase na hora.
O objetivo é o café expresso rápido no meio do alarido. Dois minutos de respiro e "via".
Os atendentes estão ocupados; olho pra TV sem nada 
ver
Enfim, um dos balconistas se aproxima; percebo que o senhor à minha esquerda ainda não foi atendido. O balconista se dirige a mim e ao senhor sem saber quem atender primeiro. Faço menção para atender primeiro o senhor e, então, olho para ele.
É um senhor distinto. Muito distinto.
Calça clara de linho, camisa leve bem passada, boina discreta confortavelmente acomodada nos macios cabelos brancos.
Pele e olhos claros.
Barba e unhas bem feitas.
Relógio de pulso clássico.
Postura ereta.
Expressão cordial e serena.
(Tenho curiosidade de sentir se usa algum perfume.)
- Boa tarde, diz ao balconista.
- O que o senhor vai querer?
- Uma média e um pão com manteiga, por favor.
Claro: o que mais poderia ser?
- Na chapa?
Claro que não.
Fico incomodada, pois só consigo observá-lo pelo canto do olho e, de repente, quero ver cada detalhe.
Amplio meu campo sensorial.
Como som ambiente, o tilintar de louças, o burburinho da gente...
Palmeiras, Corínthians, Santos...
Percebo então, que ao meu lado direito, outro senhor também está usando boina e lê um jornal; e na mesma direção, na mesinha um pouco atrás, dois senhores sentados, um de frente para o outro, conversam calmamente: o de frente pra mim também usa boina (!), o de costas, não. Puxa, que festival de boinas e de senhores com ares de outros ares!
Devagarinho, vou mergulhando (ou será que sou tragada?) por essa atmosfera; não sem a interferência, por vezes cretina, da minha mente metida a hiperativa.
Paro pra observar os dois na mesa; será que são gays?
O de boina olha pra mim.
Não; não são. No cruzar de olhares, me senti de espartilho.
Viro imediatamente a cabeça pro outro lado, meio empertigada. 

A média do senhor distinto chegou. Ele aguarda o pão com manteiga olhando para a direção da TV; seu olhar atravessa a TV, a parede, a padaria... vai pra muito além desta tarde. Sigo o seu olhar e, por um instante, sinto vergonha dentro do meu jeans. Aquele olhar me faz ajeitar os saiotes antes de sair, sem esquecer de pegar a sombrinha pra proteger o rosto do sol primaveril.
- E a senhora, vai querer o quê?
Quase peço o mesmo, mas...
- Um suco de melão.
Por que eu pedi um suco de melão?
O que eu quero mesmo é continuar naquele tempo.
Ouço a folha do jornal sendo virada. As novas no velho papel...
E... NOMES!!! Sim, ouço nomes! Todos se conhecem e se chamam pelos nomes! Cumprimentam-se com sorrisos afáveis e sinceros.
Chega o pão com manteiga que é saboreado com toda a delicadeza que requer um ritual.
E, ao invés de engolir o suco num só gole, me pego bebericando-o lenta e calmamente, preocupada com meus gestos: precisam ser finos pra pertencer a esta aura de Renoir. Qualquer movimento brusco pode quebrar o encanto.
O tempo.
Por quanto tempo fiquei naquele tempo?
O suficiente pra me lembrar que tinha mesmo de ir embora: o curso, o e-mail, o compromisso, a vida.
O suco acabou; levanto-me pra sair.
Ainda posso ouvir o farfalhar dos meus saiotes enquanto caminho como uma verdadeira dama em direção ao caixa. Antes de cruzar o portal pro mundo lá fora, lanço um último olhar para os cavalheiros; o da mesa me saúda polidamente: leva a mão à boina, fazendo 
a discreta reverência. Sorri e fiz um pedido silencioso: 
Por favor, não morram jamais.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quando a dor é funda, a palavra estaca.
Um sabiá pousou na minha janela de manhã.
Tempo suspenso.
Uma lindeza de doer.
Quando saiu voando, 

levou meus sonhos em suas asas...
Chorando, eu sorri!


Nessuno sa, nessuno vede
ma nella notte c'è un attimo segreto
in cui le anime si intrecciano in silenzio...

Quando alguém extrair uma pepita da escura mina, não o inveje; reconheça seu mérito: a vitória é da humanidade.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Amor é o que você sente, não o que você ama

(Nei Duclós)


Amor é o que você sente, não o que você ama.
Muda o alvo da fogueira, a essência mantém a chama
Quem te adora vai embora, o coração não reclama
porque a seta de Cupido já faz parte da tua trama

O amor não abandona, ao contrário do poema
prometido em noite alta, ilusão que se esparrama
só tua pulsão fica firme como saiote em arame
da equilibrista imodesta em seu abismo de manhas

No lugar de quem querias virá o encanto de novo
importa é que tenhas vivo o sopro do teu espanto
aprendeste com as brasas o que aquece sem feridas

A solidão não te pesa pois tens a força por perto
abres caminho onde passas com o dom da tua alegria
que o sentimento cultiva onde um dia foi deserto

O corpo como obra de arte: um nó de significações vivas

"O papel do romancista não é expor ideias ou mesmo analisar caracteres, mas apresentar um acontecimento inter-humano, fazê-lo amadurecer e eclodir sem comentário ideológico, a tal ponto que qualquer mudança na ordem da narrativa ou na escolha das perspectivas modificaria o sentido romanesco do acontecimento. Um romance, um poema, um quadro, uma peça musical são indivíduos, quer dizer, seres em que não se pode distinguir a expressão do expresso, cujo sentido só é acessível por um contato direto, e que irradiam sua significação sem abandonar seu lugar temporal e espacial. É nesse sentido que nosso corpo é comparável à obra de arte. Ele é um nó de significações vivas..." 


(do livro Fenomenologia da percepção - Merleau-Ponty)

domingo, 27 de maio de 2012

Arte: expressão de toda possibilidade... Liberdade.

"A universalidade da poesia reside no fato de que nos faz descobrir estados de ânimo que talvez naquele momento não vivamos, mas que são possíveis. Pois a arte como um todo desvela aspectos da realidade que nós não vivemos naquele momento, mas que podemos viver. Portanto, a arte não é apenas a expressão de um estado de ânimo subjetivo naquele momento, mas universaliza esse estado de alma." 


(do livro Fenomenologia e Ciências HumanasAngela Ales Bello)

sábado, 26 de maio de 2012



Hoje, a Lua é aquele sorriso de estrela, marota menina.
Linda.
Sorri para ela, pensando em você.
Ela entendeu.
Vai te entregar meu sorriso num beijo quando passar na tua colina...
"Não se pode dar uma prova da existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar. Acreditar chorando".
(Clarice Lispector)
Saio pra ver o que as pessoas estão olhando 
e só vejo umbigos...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Gabriela (Tom Jobim)

Vídeo de 1986 no Montreal Jazz Festival (Quebec, Canadá)

Tom Jobim









 

"...Chega mais perto, moço bonito
chega mais perto meu raio de sol
A minha casa é um escuro deserto
mas com você ela é cheia de sol
Molha a tua boca na minha boca
a tua boca é meu doce é meu sal

Mas quem sou eu nesta vida tão louca?
Mais um palhaço no teu carnaval
Casa de sombra vida de monge
quanta cachaça na minha dor
Volta pra casa, fica comigo
vem que eu te espero tremendo de amor..."

quinta-feira, 24 de maio de 2012

"Não quero que venhas, nem mesmo que fiques. 
Também que se mande ou que me ignore.
Quero que chore de amor impossível.
Só assim eu consigo saber que és minha."

(Do poema "Domador" de Nei Duclós -

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O pássaro noturno alça voo no escuro, 
guiado pelo cheiro das estrelas
No centro da nebulosa, ele mergulha fundo 
e colhe o néctar da meia noite...

terça-feira, 22 de maio de 2012

O personagem só vai se revelando para o autor à medida que é escrito. O escritor é médium do seu eu criativo. 

É proibido dizer amor

Quando não souber o que te aflige, mas tiver certeza da tua angústia, não diga nada. Caminhe até a porta e atravesse o umbral que te separa do mundo. Endireite as costas e levante o queixo. Finja não ter medo que é pra afugentá-lo e sorria. As pessoas acreditam em sorrisos (mesmo falsos): é mais fácil fingir que não vê.

Quando pensar que não tem mais saída, olhe para o céu. Sim, ele é o limite e acaba no horizonte que você fechou. Tem uma mão estendida à tua frente, mas sequer erga o rosto para vê-la. A fraqueza que admitimos se torna real.

Quando sentir que tuas forças não movem mais um dedo, tente rezar. É um remédio que nem sempre alivia, mas geralmente transmuta a dor em ilusão. No fundo, você pressente que se existisse outro dia, ele também seria não.

Mas...

Quando amar profundamente, arrisque. Não porque pode valer a pena, mas por não ter escolha. Essa coragem abala, demove qualquer fé. Só não esqueça que a entrega é tua. Então, não importa o que aconteça, sinta calado: é proibido dizer amor nesse mundo sem perdão.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

"Ficamos impregnados fisicamente no corpo astral de quem nos quer." (Nei Duclós)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mário Quintana (In: A Vaca e o Hipogrifo)

"Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!"

Simultaneidade

(Mário Quintana)


- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

domingo, 6 de maio de 2012

Tem palavra que não tem o "sentido" que soa... e destoa?
As dissonâncias da linguagem a contorcem mais no fundo...
desequilíbrio e beleza...
desafio e sublimação...

domingo, 29 de abril de 2012

Ho sceso milioni di scale

(Eugenio Montale)



Ho sceso, dandoti il braccio, almeno un milione di scale
e ora che non ci sei è il vuoto ad ogni gradino.
Anche così è stato breve il nostro lungo viaggio.
Il mio dura tuttora, né più mi occorrono
le coincidenze, le prenotazioni,
le trappole, gli scorni di chi crede
che la realtà sia quella che si vede.

Ho sceso milioni di scale dandoti il braccio
non già perché con quattr'occhi forse si vede di più.
Con te le ho scese perché sapevo che di noi due
le sole vere pupille, sebbene tanto offuscate,
erano le tue.