terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Atrás da porta

(Chico Buarque e Francis Hime) 



Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei

E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho

Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua

domingo, 26 de novembro de 2017

Pesadelo

(Nei Duclós)

Quando vier a guerra, e será breve
Veremos nosso bairro como a Síria
Fugiremos entre corpos empilhados
do quarto que perdeu quatro paredes

O barulho das balas, os pedágios
Onde o passe é tudo o que salvamos
Mais o terror de ver humanos
A criar atrocidades entre lobos
Cairão sobre nós junto ao remorso
De não termos levantado a tempo

O pesadelo é querer a paz
depois de mortos

(In: Palavra na pedra. Nei Duclós, 2017) 

sábado, 7 de outubro de 2017

Somos este mistério
este instante antes do broto
o lapso antes da palavra
bendito equívoco



quinta-feira, 25 de maio de 2017

Se fosse só isso

(Nei Duclós)

Se fosse só isso, o detalhe de uma cena
de um certo dia, tudo na superfície
e ficássemos quites com o desejo
e assim mesmo duvidaríamos
que existisse algo mais profundo
sabendo que é impossível viver
só com o que temos e devemos contar
com o impossível, nosso sonho

Mas o fôlego exige o esforço que justifica
sua exigência, a respiração mais longa
e o corpo que se estende por enigmas
além do inverno e do outono, quando o verão
renasce sem seguir o calendário e surge
a visão do amor, essa ilusão provisória
a nos fustigar as pernas cheias de preguiça
para sair do limite imposto pelo desperdício

Não é só isso e custo a entender os gestos
Nem desconfio porque ficas, insistes
depois que todos foram embora e me pergunto
até quando vai demorar esse rodeio, a dança
das cadeiras das palavras que me cercam
vindas da tua boca, aos goles de um mergulho
até cair a ficha e eu me demorar em teus olhos
e enxergar então o que há muito estava escrito

sexta-feira, 17 de março de 2017

Cu'mme



(Roberto Murolo e Mia Martini) 

Scinne cu 'mme
nfonno o mare a truva'
chillo ca nun tenimmo acca'
vieni cu mme
e accumincia a capi'
comme e' inutile sta' a suffri'
guarda stu mare
ca ci infonne e paure
sta cercanne e ce mbara'
ah comme se fa'
a da' turmiento all'anema
ca vo' vula'
si tu nun scinne a ffonne
nun o puo' sape'
no comme se fa'
adda piglia' sultanto
o mare ca ce sta'
eppoi lassa' stu core
sulo in miezz a via

saglie cu 'mme
e accumincia a canta'
insieme e note che l'aria da'
senza guarda'
tu continua a vula'
mientre o viento
ce porta la'
addo ce stanno
e parole chiu' belle
che te pigliano pe mbara'
ah comme se fa'
a da' turmiento all'anema
ca vo' vula'
si tu nun scinne a ffonne
nun o puo' sape'
no comme se fa'
adda piglia' sultanto
o mare ca ce sta'
eppoi lassa' stu core
sulo in miezz a via
ah comme se fa'
a da' turmiento all'anema
ca vo' vula'
si tu nun scinne a ffonne
nun o puo' sape'
no comme se fa'
adda piglia' sultanto
o mare ca ce sta'
eppoi lassa' stu core
sulo in miezz a via