sexta-feira, 30 de março de 2012

Patapàn


Bellissima. Indimenticabile. E finora, insopportabile.


Patapàn (video)
(Claudio Baglioni)

ce l'ho ancora sulla pelle
quell'odore di colline
sono lucine o sono stelle
quelle cose dove la campagna ha fine
ti ricordi pa'
mi tiravi per la mano
sul tuo passo più costante
tu un gigante e io un nano
mentre davi un nome agli alberi e alle piante
e raccontavi fatti
e misteri di laggiù
così per lunghi tratti
e se non ce la faccio più
tu mi trovavi un legno
e io ci montavo su
con quel cavallo e un regno e uno schiocco e patapàn 

al galoppo e all'avventura
sotto a quel tuo naso grosso
messo come prua e non avevo mai paura
dentro la tua scia ti stavo sempre addosso 
e nella sera chiara
da lontano l'armonia
di un suono di fanfara
di un tam tam di prateria
e le tue braccia forti
che indicavano la via
ai miei ginocchi storti e agli occhi e patapàn 


ciao pa'
ma quante strade di sentieri bianchi
e quante ancora e ancora no non siamo stanchi
lo vedi come corro così veloce
dietro al tuo fischio e quella voce
se resti indietro aspetto 
sotto la croce e scoppia il petto e in coppia 
e andiamo avanti e patapàn

e sul ciglio di un burrone
tu facevi quella finta
di una spinta in giù e io ridevo col fiatone
e mi alzavi su nella camicia stinta 
e ti sentivo dire
di chi c'è e chi non c'è più
e non poter capire
perché non è come un tram
su cui chi si vuol bene
sale e viaggia e scende giù
ma tutti quanti assieme per sempre patapàn 

ciao pa'
così hai saltato giù e ora sei in volo
ti sei fermato un giorno e io corro solo
perché non m'hai aspettato e stai lontano
e non mi prendi più per la mano
che senza un legno adesso un po' più piano vado 
e spesso cado
ma andiamo avanti 

ciao pa'
ma dimmi dove è che stiamo andando
e questa vita dove mai ci sta portando
non era questo il mondo che volevamo
e non è il cielo che sognavamo
non è quel tempo, è adesso
in cui dobbiamo stare
e lo stesso andare
e andiamo avanti e patapàn
Não tenho capa: rasgo na primeira folha.
Quebra de sigilo é quando o segredo não cabe mais no cofre.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Estão todos juntos gritando por socorro; 
mas cada um só ouve seu próprio grito.
Bem no fundo, reencontro
a velha companheira:
a solidão.
Não estava com nenhuma saudade.
E o riso leve se condensa numa lágrima que desce a garganta.
Doendo.

terça-feira, 27 de março de 2012

Fragmento 270312

Vasculhava pela memória, recolhendo seus cacos, tentando reconstruir o quebra-cabeça.
A barba cinza de seu pai amornava a manhã, enquanto a lenha era talhada em pequenos tocos. Os olhos azuis e inabaláveis de sua mãe instauravam a concretude de mais um dia. O cheiro acolhedor de café, depois de invadir os quartos, se esparramava varanda a fora, inundando a plantação com o ar energizante de "bom dia". O burburinho preguiçoso de seus irmãos, a escola e a menina com cachos dourados impecavelmente assentados pela tiara de cetim, o Nico (seu melhor amigo até o ano seguinte), tudo isso lhe devolvia vagarosamente a respiração, o volitar de um tempo que lhe permitia ter a pseudossensação de alguma certeza.
Tudo era normal e era bom que fosse assim. Os dias apenas recomeçavam sempre do mesmo ponto: o cheiro de café. E terminavam sempre do mesmo jeito: sonhos imersos no cheiro de palha antes de dormir.
Cheiros... Qual era o cheiro dele? Engraçado como não identificamos nosso próprio cheiro.
Mas um dia ele iria se livrar daquele cheiro de capim; isso sim. Ele sempre ouvia alguém falar na escola e nas festas da cidade: “aqui, ninguém tem chance de ser alguém... nasce, vive e morre joão-ninguém... único jeito é tentar a vida na cidade grande: ali sim é que tudo acontece!”
Acontece... não queria pensar nisso agora. Voltou pro cheiro de capim... verde fresco, melhor ainda depois da chuva! Açoite de vento a estalar gotículas de água e de vida; verdes crinas reluzentes a vibrar o manto da terra. Essa ária verde inflava seus pulmões e ele flutuava por cima do matagal: era rei do céu e do sol! Nada o podia impedir de ser senhor e forasteiro no seu próprio reino. Forasteiro, pois sempre tinha algo novo de si mesmo ainda por desvendar e senhor do seu nariz, mesmo que ele ainda nem soubesse limpá-lo direito.
Seu nariz, agora eternamente vermelho em constante luta com o incansável lenço de papel: maldita rinite, mal da cidade grande...
NÃO!
Não queria pensar nisso agora; voltou pro cheiro de capim...

domingo, 25 de março de 2012





Quando os ventos nos retornam ecos diferentes, 


nossa voz sem sentido não reflete o que sente...

Hipocondria

Senécio - Paul Klee

Não pedia muito, só um pouco de sanidade
Tinha, numa mão, duas ou três incertezas
na outra, uma espera infinda

Não sabia o que menos importava:
se seu centro ou o universo
se sua vida ou sua escolha
se seu medo ou sua fantasia

No olhar, uma procura cega,
a pergunta da alma in natura:
qual o mal pra tanta cura?

segunda-feira, 19 de março de 2012

domingo, 18 de março de 2012

"Consoantes são o mundo físico, vogal é o sopro divino que insufla o barro." (Nei Duclós)

sexta-feira, 16 de março de 2012

À deriva


Flutuava no tempo como se não existisse.
Atordoado.
Não lembrava mais de si mesmo?
Aflito, fechou os olhos segurando-os com firmeza, se curvou pra dentro (o corpo todo, como quem mergulha nas próprias entranhas): tinha que tocar e firmar o epicentro de onde se propagava aquele turbilhão de rostos...
tantos rostos passando freneticamente pela sua mente, tão estranhos...
Qual era o dele?
Esforço inútil.

Só lhe restava abandonar-se mesmo...

A sensação de estar à deriva, liberdade que sempre sonhara, se transformava em pura náusea. 

Não tinha pouso.
Também não tinha medo, só insônia.
A angústia maior era não conseguir despertar dela.
Tanto fazia se era dia ou noite; tanto fazia se era dentro ou fora:
nada o salvaria daquele perdurar sem dono,
da condenação de ser invariavelmente morno,
da impotência de ser mero fantoche entregue à insensatez da rotina.

Devia ser outono.
Pensou em voltar pra marquise... era sempre a mesma?
(como se alguma coisa pudesse ser sempre a mesma)
A marquise era sempre a mesma não importava qual fosse.
Toda marquise era estranha e, portanto, era sempre igual.
A gente se acostuma com tudo na inexorável repetição: quando a rotina é se deparar sempre com coisas estranhas, nada mais espanta.

Sempre... sempre... soava como uma bigorna.
Sempre.
Tudo igual.

Que horas eram?
Tanto fazia.
As horas não contadas se abriam em imensos vazios por onde seu pensamento oscilava lentamente entre o sim e o não...
sim...
não...
sim...
não...
Tempo: pêndulo das incertezas.
A meia-noite tanto fazia como o meio-dia.
A meia vida tanto fazia como o meio lanche.

Pensando bem, tanto fazia também qual era o seu rosto entre tantos...
tão estranhos e, portanto, tão iguais.
É.
Ficou mais calmo.
Resolveu voltar pra marquise.
Já era hora.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Linda, Nua, Brilha a Lua



Hoje, ela não quer nem saber: 

o céu é só dela! 

Só resta ao universo deslumbrado consentir em uníssono que ela reine...

Vênus às avessas

Vênus de Botticelli
Não  sou a menina que te faz perder o juízo;
sou a chance que tens de escapar do teu destino.
Nem a beldade com quem sonhas acordado;
o que sou, na verdade, nem sonhas.

Também não sou a "santa" que te pôs no mundo;
bendita sou eu que te carrego bruto.
Nem a gueixa pra que te deleites;
e sim a chama que te despe a alma.

Não sou a princesa que acalentas;
sou a amazona que te atravessa o tino.
Nem a escrava que te beija os pés;
mas tua lágrima vertida em flor.

Não sou a rainha por quem morrerias;
te salvo por um triz da tua vida exangue.
Muito menos a deusa que tu adoras;
mas guerreira à espreita pra quem pedes arrego.

Não sou sex symbol, nem boneca de luxo;
te desejo pelo cheiro e pelo pulso.
Não adianta, não sou nada do que esperas:
só a surpresa no fim da festa.

A mulher que pediste a Deus? Não...
tu não merecerias tamanho castigo.


Enfim, pra ficar bem claro:


Não sou a dita, nem a pantera
não sou a outra, nem a patroa
nem mignon, nem bonitinha
nem linda, nem gostosinha

Não sou a dona da pensão, nem cortesã de mensalão
não sou matrona austera, nem companheira eterna
nem femme fatale, nem galinha pro teu bico
nem Angelina, nem Amélia, nem Pagu, nem mulher à toa

Sou só mulher e sou das boas.

Sou só assim...
e se me amas...

sou tua.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sujeito é verbo

Retirado de www.meupapeldeparedegratis.net


Sujeito é verbo
palavra em transe
tempo liberto

fluxo que pulsa
o contínuo se
infinito reflexo
do escape de si

Desabafo do dia: Virtuose

Virtuose, segundo o Aurélio:
1. Músico de grande talento; virtuoso. 2. Toda pessoa que domina em alto grau a técnica de uma arte. 3. Pej. Aquele que tem, em arte, habilidade meramente malabarística, destituída de sentimento, probidade interpretativa etc.

Não gosto do sentido pejorativo.
Alguns conceitos não deveriam jamais ser banalizados; perdem seu sentido... é uma pena.
Virtuose, por exemplo, é uma palavra que deveria ser conservada; destinada somente a quem verdadeiramente a merece. Qual é o critério para seu uso? Talvez, o conhecimento "suficiente" para se ter o mínimo de discernimento. Quanto de conhecimento é necessário, o que podemos considerar como "suficiente"? Certo, não é tão simples de se estabelecer.
Mas hoje, parece que a falta de discernimento é tanta que quase TODOS se julgam gênios e, o pior: a maioria acredita.

Resta seguir na esperança de que a humanidade ainda consiga nos trazer mais surpresas que decepções.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Fragmentos 050312


Às vezes, um anjo me concede um milagre: então, num segundo, reconheço alguém que não conheço.

Pra ti, escreveria um romance; mas já conheces o final...

A vida do instante é escapar o tempo todo pra se fazer presente.

Te escuto em cada palavra que não te escrevo.

Antes de deitar te observo: pareces um anjo na noite a semear canduras nos sonhos da gente...

Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras 4 - Parte 1

domingo, 4 de março de 2012

Jardim das Rosas

Quando a música é poesia que fala sem palavras e liberta o coração...



Tentas

Josh Holloway




Tentas 
esconder o fogo sob a pele 
o brilho atrás da retina 
o golpe que te fulmina 

Tentas 
driblar o gesto sem jeito 
fingir que não é contigo 
camuflar o riso incontido 

Tentas 
não deixar cair a máscara 
não entregar o que está explícito 
não cometer o ato ilícito 

Mas é tudo em vão 

Pois basta um olhar de esguelha 
um triscar de pelo 
um fiapo de cheiro 
e não resistes: 

me tentas

sábado, 3 de março de 2012

Fragmentos 030312


Segredo oculto não é pleonasmo, é situação: para ser segredo, ele tem que ter a possibilidade de ser revelado...

Tirei minha máscara de pessoa real; resolvi assumir a minha virtualidade.

De repente, me deparei com dois pontos: estranhamente, nada os explicava.

Não existe nenhuma cláusula contra a acentofobia?

Fiquei buscando coisas na memória, num tempo em que elas não existiam.

Existe alguma coisa mais sem sentido que uma palavra sem sentido?

Não tinha vergonha de ser feliz: ria sem nenhum dente na boca.

Se vazio não fosse nada, a gente não sentia.

Esse eu que não me responde, não sou eu.

Pensava nele de um jeito diferente... meio sem pensar.

Quando a gente pensa que acabou, vem o sol e nasce de novo. Incrível!