segunda-feira, 25 de novembro de 2013

estupidez, ignorância e vulgaridade:
a natureza não devia permitir uma combinação destas num único ser.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Roda Viva (Chico Buarque): um palíndromo...


Festival 1967: uma das eternidades


Roda Viva
(Chico Buarque)

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

domingo, 17 de novembro de 2013

Enigma

Não tenho mais idade pra viver o passado
Meus anos são mais velhos que eu
Salvar o futuro da certeza, é preciso
É muita crueldade morrer antes de mim
Na bola de cristal, vejo a menina me acenando
Cabelos soltos, sorriso franco
No olhar, apenas o enigma anunciando um prefácio...
Errou o artífice que tentou contar a história começando pelo início
Não existe o princípio do nada
Do nada, só conhecemos o fim
E o final é o meio da charada
Pra que lado a menina sorri
Tenho medo de mergulhar nesse mar de cinzas
e revirar esqueletos abandonados
Basta um mínimo olhar
pra que, nos porões, se crie o fantasma
do que nunca existiu

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Música é a mistura inefável de sons que escapam do paraíso quando um anjo esquece a porta aberta...
La Luna è tanto bella oggi 
sembra che sei qui con me...

domingo, 10 de novembro de 2013

sábado, 9 de novembro de 2013

O milagre da quarta-feira

Dizem que o tempo não para; não é verdade.
Alguém pode me dizer o que são as 14h30 de uma quarta-feira?
Precisamente nessa hora, o mundo estaciona.
Momento estático.
Universo suspenso.
A inércia se instala.
O ponteiro dos minutos nunca mais vai alcançar o 31.


No escritório, o funcionário se sente em meio a um imenso deserto. Céu limpo, sol escaldante. De um lado, areia; do outro, também. Nenhuma expectativa de que algo mude seu destino.

O caminhoneiro se arrasta pela estrada ansiando inutilmente o final do percurso; seu olhar se perde no horizonte de curvas e retas sem sentido. Velocidade constante. Som de motor.

Na construção, o cimento fica mais pesado, assim como o capacete. Andar acima ou abaixo, tanto faz: todo lugar é o mesmo. Parede, tijolo, andaime, tapume.

A hora do almoço já acabou no boteco. Barulho de pratos na pia. TV em qualquer canal. A mosca é a mesma de ontem; circula perdida no meio do bar. Afinal, são 14h30 de quarta.

A mesmice se agrava dentro do elevador: ninguém sobe, nem desce. Nesse horário? Pra quê?

A balconista já lixou as unhas e retocou o batom. A rádio repete a música e o café não espantou seu sono.

A sesta devia ser obrigatória às quartas-feiras.

Nada escapa desse buraco negro no meio da semana; nenhuma esperança acena para as extenuadas criaturas. Bem dizia a tirinha do Snoopy no fatídico dia: “Senhor, deixe-me morrer.” Não está especificado na tira, mas não resta dúvida que nesse exato momento eram 14h30.

Imagino os escravos do tempo, fazendo um esforço enorme nessa hora, para fazer a grande roda mover mais um segundo... um só! Pobres seres esgotados pelos séculos, que seriam bem mais leves, não fosse quarta, 14h30.

Enfim, dela ninguém escapa.

Mas eis que acontece o inexplicável: miraculosamente, depois de uma eternidade, quando menos se espera, não são mais 14h30. Passou-se um minuto, talvez dois! Com sorte, cinco!!! E então as pessoas voltam lentamente a acreditar na vida... Voltam a acreditar que as 15h00 chegarão... e que, assim como na última semana, o sábado e o domingo também chegarão!

E não se sabe bem, se por conta de tanta fé ou se por piedade divina, o universo se põe a girar. Ao menos até a próxima quarta-feira...