domingo, 9 de setembro de 2012

A manhã do amanhã

Era um domingo morno, quando eu e meu filho resolvemos surpreender a manhã.
À revelia da panela no fogo e do compromisso logo mais, não tivemos dúvida:
começamos a dançar um velho e bom jazz na cozinha.
Milagrosamente, nem o telefone, nem a campainha, nenhum celular tocou. Só o jazz tocava displicente, indiferente aos dançarinos improvisados.
Solenes, de pijamas, eu e meu rapaz, no auge dos seus vinte anos, adentramos a eternidade por quatro minutos dançando um jazz na cozinha...
Como se fosse óbvio inventar o inusitado.
Como se fosse fácil segurar o peito em fogos de artifício.
Altivos no átrio do castelo. Silenciosos na empatia do momento sublime.
Certos sabores nos fazem exalar asas de borboletas.
Dancei perpetuando cada passo do modo como queria lembrá-lo no futuro...
Dancei abraçada ao príncipe que parte para o mundo, intensificando a concretude do laço, sentindo, já com saudades, o último toque no bastão que passo adiante: momento em que fechamos os olhos, soltando sem querer largar, e então depositamos naquele instante tudo o que temos: nossa fé.
No meio da dança, olhei pra ele: tinha mais sol no seu olhar do que se pode encontrar no universo inteiro!
A vida estava ali, borbulhando diante de mim, naquele cavalheiro imponente, respeitoso e audaz: meu menino...
Senti o arfar do jovem destemido e vigoroso e lhe disse: “Respira...”
Respiramos juntos.
E então, ele me fez girar todas as piruetas: Fred Astaire e Ginger Rogers não fariam melhor! Girei, girei... todos os anos de escola, todos os tombos e risos, todos os sonhos libertos... Continuamos dançando até que o jazz foi ralentando seu destino e... acabou.
Entreolhamo-nos satisfeitos: ele saltitando ingenuidade, eu sorvendo cada gota daquele êxtase.
O silêncio se encheu de uma ternura azul até que começou a tocar faixa seguinte.
Ele foi jogar basquete.
Eu fui regar as plantas.
E o domingo seguiu em paz.

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