domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desperta


Quanto mais me enfio noite adentro, mais rarefeitos ficam os laços que me prendem ao óbvio. Solta, vou penetrando no impensável, bem fundo; mas, a um minuto do desenlace, durmo... e o mistério se renova implacável.
Amanheço sem chance, derrotada: mais uma noite vencida.
O milagre do dia me acena como um insulto e aproveito a provocação para reinventar a esperança.
Galgo a jornada como se fosse real: finjo que acredito nas manchetes, na história do padeiro, na minha imagem no espelho.
A tarde morna não passa.
Até que um “sopro” se aproxima sorrateiro... vem baixinho, sussurrando e, de repente, o desafio se agiganta na minha frente qual onda do mar triunfante: ou mergulho ou me engole.
Enfrento: me entrego à noite...
Ela me draga da inércia vespertina; a névoa do cotidiano se esvai aos poucos e, em meio à escuridão, reabro meus olhos de verdade.
Retomo meu sóbrio espanto diante do mundo; recobro os sentidos.
Enquanto a insônia iluminar a trilha que desbravo, sigo viagem dentro do infinito buraco negro.
Agora sim... silêncio!
Toda atenção é pouca, assim como toda gratidão à bênção: 
a vida me deu mais uma chance.

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