quarta-feira, 31 de julho de 2013

Estamos cansados

(Nei Duclós)

Estamos cansados
dos papos nos bares
dos encontros sem graça
das confissões em voz baixa
dos cumprimentos adequados
dos sorrisos forçados
da nossa cidade
das mesmas praças

Em grupo olhamos para todos os lados
para não nos enfrentar de cara

Esperamos com a boca amarga
a doce explosão dos ares
a vinda esperada do rei
o assassinato
o definitivo fim da farsa

Sou culpado pois não finco tua carne
com agulhas de fino aço
nem te arranco um filho
nem tento suicídio
nem faço um carnaval de fogo

O silêncio
cheio de tédio e segredo
sopra diariamente
e nos seca a garganta

(Do livro Outubro, 1975)

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